MOMENTO POESIA




FOTO:  Lulinha

Joelson de Souto é músico, educador, artista de rua,  poeta popular e faz parte da Cia. Arte e Riso da cidade de Umarizal e do Movimento Popular Escambo Livre de Rua.






MELHOR A NOITE NA PELE QUE O CORAÇÃO NO ESCURO


Melhor que a matina alva
Melhor que o mel doce e puro
Melhor que poder e fartura
Melhor que o fruto maduro
É ter a noite na pele
Que o coração no escuro

 
Longos anos de chibata
Revolta, dor, paciência
Longas noites no escuro
Do quilombo em resistência
O negro usando a fé
A força e a inteligência

 
Negros olhos vendo o mundo
Do branco em todas as cores
Não existe uma flor negra
No meio de tantas flores
Mas a mão que regra o verde
É negra e cheia de dores

 
Quem escureceu o mundo?
Quem sabe diz que não viu
O negro atravessar o mar
Pra clarear o Brasil
Clareou com seu sorriso
E com a força serviu


Servimos na construção
Servimos no cafezal
Servimos peia de fé
Como bicho irracional
Servimos deus amarrados
Com as cores do mal

 
Servimos de meio dia
De manhã, de madrugada
E no escuro da senzala
A mãe noite ia calada
Curar do seu filho preto
A alma dilacerada


O preto do mel de engenho
O branco da goma alva
Rastafári, bem do negro,
Careca lisa ou calva
O negro que salva a tudo
Mas ao negro ninguém salva


É Luther King, é Gilvan,
É Mandela, é rei Pelé,
É Zumbi é Raphael,
Dona Chica e seu Zé
Talvez até um chamado
De Jesus de Nazaré


Já fez tanto no passado
Que já fez pelo futuro
Mesmo debaixo de peia
De corrente e cipó duro
Que lhe mate ou lhe flagele
Melhor a noite na pele
Que o coração no escuro.



Joelson de Souto

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