Não sabia se estava voltando no
tempo, entrando nos anos 1970/80 ou se estava num remake de woodstock,
limitadas as proporções, mas não achava que estava em Mossoró. Todo aquele
tradicionalismo artístico engravatado ou fixado na necessidade de vinculação com
o poder público, havia se dissipado e tudo estava no beco. Um beco mesmo, mais
estreito que o Beco da Lama, menor do que a Brecha da Gata, mas como se nele
habitasse um portal entremundos, ou entretempos, tanto faz. Garotos de saia
faziam protesto contra a homofobia. Lésbicas dançavam coreografias eróticas.
Todos se beijavam livremente como se não houvesse sexo. Casai héteros
confabulavam suas paixões. Loucos se fingiam de poetas para gritar no microfone
palavras de ordem ou trechos que diziam ser poemas. O beco estava vivo e tinha
me engolido.
Se havia reparado na travessa
José Martins de Vasconcelos, por trás dos Correios do centro de Mossoró, não me
lembro, mas garanto que jamais me esquecerei dela. As imagens me tatuaram e a
ânsia de permanecer por lá, congelavam o meu tempo. Bebida alcóolica, cheiro de
maconha, músicas de épocas diferentes, juventude, juventude. Vi até uma
estrangeira, mas vi, principalmente, a necessidade da arte. A vontade de ser
livre e quebrar, como na transvaloração de todos os valores, todos os valores
vigentes. O amor é maior que tudo, pensei ter ouvido isso de uma jovem
baixinha, gordinha de óculos e pele amorenada que falava com um flanelinha. Ele
parecia consultá-la como a uma pastora e ela assim se fazia.
Imagem: http://defato.com/blog/comida-diversao-arte/2013/09/05/viajando-pelo-beco/ |
No meio da multidão o poeta Mário
Gerson era outra pessoa. Menos burocrático, jovem como nunca foi. Flagrei-o em
situações que, embora simples e não comprometedoras, quebravam o gelo do
acadêmico imortal. Digo outra pessoa porque, não sei se foi a tequila que eu
virava com frequência, mas imaginei Fernando Pessoa em Mário Gerson.
Lembrando-me do que li sobre ele: um sujeito estranho, místico e supersticioso
e que fazia de tudo poesia. A melhor entre as portuguesas modernas, suponho.
Comprei dois poemas datilografados de Mário que estavam a venda no varal do
beco.
O beco, ou Coletivo Pega o Beco,
é um movimento experimental realizado pela galera do Diretório Central dos
Estudantes (DCE) da UERN, sob o comando de Max Medeiros, um louco que usa barba
de revolucionário e age assim o tempo todo. Ele e a galera que integram o
movimento do Beco, a revolução cultura de Mossoró. Acontece nas sextas e nos
sábados a partir das 16h e sem hora para acabar. É um compromisso, mas não
parece nada obrigatório. O beco é livre para quem vai ou não, embora o bom seja
ir.
Nota:
Não foi só pelo fato do beco na cidade de Mossoró
estar fazendo o maior sucesso dentre boa parte da classe artística tanto pela
efervescência cultural com seus grafites, poesias, músicas ao vivo quanto pela
localidade e tradição que aquele ambiente tem para própria cidade que
publicamos essa postagem, é claro que esses fatores já merecem tal reconhecimento,
mas temos quer dar ênfase ao talento do artista umarizalense Noel Filho que há
alguns anos vive em Mossoró e vem nos últimos anos realizando uma série de trabalhos
voltados para a arte e cultura, pois além de desenhista, agora Noel atua como tatuador,
artes em camisas e grafiteiro que por sinal é dele a arte na foto inicial da
postagem e ainda, o desenho é o palhaço Gravatinha imortalizado nas ruas de Mossoró.
Parabéns Noel Filho pelo belo trabalho
e obrigado pela homenagem feita a Cia. Arte e Riso.
Algumas imagem de Noel Filho durante
a atividade de colorir com arte o beco:
Imagem retirada da internet - facebook.com |
Imagem retirada da internet - facebook.com |
Imagem retirada da internet - facebook.com |
Quem quiser ver mais trabalhos de Noel Filho basta entrar em sua página no facebook: https://www.facebook.com/noelfilhoo?fref=ts
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