Apenas um aperitivo da sua vasta
obra
"LÁPIDE
Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!"
"Noturno
Têm para mim
Chamados de outro mundo
as Noites
perigosas e queimadas,
quando a Lua
aparece mais vermelha
São turvos
sonhos, Mágoas proibidas,
são Ouropéis
antigos e fantasmas
que, nesse Mundo
vivo e mais ardente
consumam tudo o
que desejo Aqui.
Será que mais
Alguém vê e escuta?
Sinto o roçar
das asas Amarelas
e escuto essas
Canções encantatórias
que tento, em
vão, de mim desapossar.
Diluídos na
velha Luz da lua,
a Quem dirigem
seus terríveis cantos?
Pressinto um
murmuroso esvoejar:
passaram-me por
cima da cabeça
e, como um Halo
escuso, te envolveram.
Eis-te no fogo,
como um Fruto ardente,
a ventania me
agitando em torno
esse cheiro que
sai de teus cabelos.
Que vale a
natureza sem teus Olhos,
ó Aquela por
quem meu Sangue pulsa?
Da terra sai um
cheiro bom de vida
e nossos pés a
Ela estão ligados.
Deixa que teu
cabelo, solto ao vento,
abrase
fundamente as minhas mão...
Mas, não: a luz
Escura inda te envolve,
o vento encrespa
as Águas dos dois rios
e continua a
ronda, o Som do fogo.
Ó meu amor, por
que te ligo à Morte?"
Ariano Suassuna
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