O Natal vem e sempre acreditamos que as pessoas irão melhorar, pois são muitos os motivos para isso acontecer, o sentimento de confraternização toma conta de todos, então passamos a fazer coisas que deveríamos fazê-las durante todo o ano como respeitar o próximo, fazer doações para quem realmente precisa e outras. Por isso, vale apena refletir sobre o natal, o porque nos comportamos assim somente nessa época.
E como ficam as milhares de pessoas miseráveis do mundo no pós natal?
É certo continuarmos com essa ilusão de que no natal todos estão bem?
Qual será realmente a face de Papai Noel?
Portanto, vai aí um texto interpretado por um grande artista brasileiro com esse propósito:
Saulo Laranjeira - ator, poeta, apresentador, humorista e cator |
Eu num gosto de você Papai Noel!
Também num gosto de seu papel
De vender ilusão para a burguesia
Se os meninos pobres da cidade
Soubessem o desprezo que você tem pelos humildes e pela humildade
Eu acho que eles jogavam pedra em sua fantasia
Talvez você não se lembre mais
Eu cresci e me tornei rapaz
Sem nunca esquecer daquilo que passou
Eu lhe escrevi um bilhete
Pedindo meu presente
A noite inteira esperei contente
Chegou o sol, mais você não chegou
Dias depois meu pobre pai cansado disse:
Trouxe um trenzinho velho, enferrujado
Pôs na minha mão e falou
Toma filho é pra você, foi Papai Noel que mandou
E vi quando ele disfarçou as lágrimas com as mãos
Eu inocente, alegre nesse caso
Pensei que meu bilhete embora com atraso
Tinha chegado em suas mãos no fim do mês
Limpei ele bem limpado, dei corda,
O trenzinho partiu deu muitas voltas
Meu pai então sorriu e me abraçou pela última vez
O resto eu só pude compreender depois que cresci e vi as coisas na realidade
Um dia meu pai chegou assim pra mim como quem ta com medo e falou
Da aqui meu filho, da aqui, da aqui aquele seu brinquedo
Eu vou trocar por outro da cidade
Então eu entreguei o meu trenzinho quase a soluçar
Como quem não quer abandonar um mimo
Um mimo que lhe deu, que lhe quer bem
Eu supliquei com medo
Pai eu não quero outro brinquedo
Eu quero meu trenzinho, não vai levar o meu trem pai
Meu pai calou-se e de seu rosto desceu uma lágrima que até hoje creio
Tão pura e santa assim, só Deus chorou
Ele saiu correndo, bateu a porta,
Assim como um doido varrido
Minha mãe gritou José, José, José
Ele nem deu ouvido
Foi embora e nunca mais voltou
Você Papai Noel
Me transformou num homem
Que então se arruinou
Sem pai, sem brinquedo
Afinal dos meus presentes
Mãe não que sobre
Da riqueza de um menino pobre
Que sonha o ano inteiro
Com a noite de natal
Meu pobre pai mal vestido
Pra não me ver naquele dia desiludido
Pagou bem caro a minha ilusão
Num gesto nobre, humano e decisivo
Ele foi longe demais
Pra me trazer aquele delitivo
Tinha roubado aquele trenzinho
Do filho do patrão
Quando ele sumiu, eu pensei que ele tinha viajado
Só depois de eu grande minha mãe pronto me contou
Que ele foi preso coitado
E transformado em réu
Ninguém pra absorver meu pai se atrevia
Ele foi definhando na cadeia
Até que um dia
Deus nosso pai, Jesus
Entrou em sua cela
E libertou ele
Pro céu, pro céu, pro céu...
(O Poeta Macambira-Saulo Laranjeira)
Postado por Jardeu Amorim
0 comentários: