Prêmio, Política, Vida, Escambo, Arte & Riso.

Foi com muita satisfação que li os e-mails que falavam no resultado de editais que contemplaram alguns grupos do escambo. Fico feliz pela possibilidade de grupos como o Bando La Trupe e o Cervantes terem um pouco mais de condição de levar sua arte a mais lugares e com mais qualidade e tranquilidade. Fico feliz também em ver as articulações acontecendo, encontro do pessoal do espetáculo Cabeça de Papelão em Icapuí, Encontro com vários grupos do Escambo em Alexandria, a vontade dos grupos Tribo da Arte e Arte e Ginga de fazerem o Evento Novartes mais um ano em Lucrécia, muito feliz por saber que o movimento Escambo é forte, grande e em movimento.
Diante de todas essas coisas paro para pensar na condição da nossa Humilde CIA ARTE & RISO: continuamos sem dinheiro, sem apoio (escorregando, cai-num-cai), devendo um pouco, sem figurino que preste, vamos fazer 10 anos e ainda não conseguimos romper a barreira da estrutura de teatro de escola de pobre...é TNT, nossas roupas velhas reaproveitadas, vestido velho de quadrilha, peruca de meia calça e lã de tricô, palhaço com camisa promocional de evento e all star, zabumba com pele velha, ressacada, sem som e sem baquetas adequadas, tarol com baquetas roídas e com correia de alça de bolsa de viagem, malabares improvisados feitos por nós, caixa de som que já queimou umas mil vezes, mas que ainda tem som, meio rouca, um certo ruído, mas que ainda serve, microfone de DVD com karaokê, mala de madeira soltando prego, espelhos manchados, maleta de plástico para ferramentas, um estandarte com 9 anos de idade pintado à mão, make up preto, branco, vermelho e dois lápis pela metade, e um pessoal da pesada.
Aí está o que precisa para formar uma companhia cultural miserável, mas que há 9 anos resiste nas ruas e comunidades desses Sertões Potiguarinos, uma Companhia que leva consigo a marca do NÃO de prefeitos, secretários, fundações e editais, que carrega também o peso de ser jovem, nordestina, sertaneja, semi-árida e anárquica por essência e natureza. Isso não é um “lamento de tudo e nada” não. Isso é o orgulho de dizer que contamos com 17 pessoas comprometidas com o presente e futuro de nossa aldeia global, pessoas comprometidas com a causa de fazer um mundo melhor, de transformar vidas de fazer desse mundo um lugar digno de se viver. Isso é o grito do orgulho de poder dizer que tiramos leite de pedra e vencemos leões diariamente. Isso é o orgulho de dizer que do nada é possível criar e evoluir. Com nada circulamos com o nosso espetáculo, nossa trupe de palhaços, nossas poesias, músicas, oficinas, brincadeiras e com nossa alegria de viver e de ser miseráveis materialmente, mas ricos em caráter e em ações éticas, considerando que o fim da ética é o bem. Por isso não anotamos nada em reuniões, não escrevemos mais projetos, não esperamos mais pelo dinheiro federal, estadual ou municipal (a gente é que pensa que esse dinheiro é nosso, só queremos o dinheiro do povo se for do nosso jeito.), somos clandestinos e vamos continuar um pouco mais assim. Nada de formalidades, nos sentamos de pernas arreganhadas nos bancos solenes das câmaras de vereadores e o diabo.
O importante é que estamos vivos como grupo, como escambo. O importante é que as crianças do bairro Caraíbas continuem com sua companhia de teatro, que estudem e que virem cidadãos de bem, o que importa e que continuemos a inspirar e a sermos inspirados pelo mundo.
O que importa é o nosso amor, amor puro e incondicional a tudo!

“Nós não conseguimos dizer o que sentimos assim
Tão rapidamente não
Precisamos de tempo pra pensar
Precisamos de amor e de pão

Mas nós temos as sementes para semear
Nós temos mais uma canção...
Não temos só esta canção!

Enquanto existir coragem e paixão
A nossa força existirá
Enquanto existir quem nos erga a mão
A nossa canção tocará
Nós temos mais uma canção...”

JOELSON DE SOUTO, por debaixo desse solo abençoado, não tem cobra que se enrole no meu pé.
Às vezes tenho que relembrar esse poema para não cair...


Mantendo a Esperança

Sou o poeta amordaçado
Com o pensamento engasgado
Com a vista rouca
De tanto olhar o mundo
Sou o poeta algemado
De dedos roídos
De pés gangrenados
Tão esfomeado
Tão sem paladar
Tão sem palavra para dar
Vender
Emprestar
Sou o poeta espancado
Pela minha própria estupidez
Tão ensangüentado
De sangue coalhado
Em cima do altar
Sou oferta dos deuses
Que nem um inseto
Veio visitar
Sou doente, raquítico
Louco, sifilítico
Guerreiro e pacifico
Depende do dia
Sou aquele que fez
O que você faria
E não fará mais
Sou aquele que fala
Com os animais
Falando através
Aqui desta criança
Mantendo a esperança
De querer muito mais.

(Joelson de Souto)
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