Por Junio Santos
Esse texto foi escrito em 2003, na volta do Escambo Vale até
hoje.
Quem tiver mais vá
postando pra oportunizar outras a conhecer esse louco e ousado Movimento.
Mesmo com 22 anos de ativista e integrante do Movimento
Popular Escambo de Rua, não consigo definir nem saber de onde emana a força que
move esses “pobres moleques safados”, chamados de escambistas, que não medem
esforços e nem encontram dificuldades que os impeçam de participar, contribuir
e marcar presença em um Escambo.
E quem em sã consciência cometeria as loucuras que essa raça
cigana da arte faz para não faltar a um encontro?
Quem arriscaria, como os escambistas arriscam, passar três
dias de fome, frio ou calor, sem água para o banho ou qualquer outro tipo de
conforto, apenas para não faltar a um encontro do movimento?
Quem nesse mundo involuntário e competitivo, onde o dinheiro
é o espírito que move e imobiliza as pessoas, largaria tudo e com
desprendimento passaria três dias em um sítio, num assentamento, numa pequena
comunidade periférica oferecendo sem cobrança o produto precioso de seus
estudos e trabalho?
Quem em tempo de competitividade, desemprego e abuso de
poder enfrentaria o descaso, a soberbia, ignorância, a falta de sensibilidade
dos prefeitos e dos ineficientes secretários de educação e cultura de seus
municípios, arriscando a própria pele, o próprio espaço, o impróprio emprego?
Quem se não nós mesmos, os loucos artistas livres de rua,
escambistas trocadores de arte, cultura, felicidade e cidadania, operadores de
milagres e sujeitos ativos de nossa história.
E quantos entre nós, desde o primeiro escambo não cometeu e
não continua a cometer loucuras possíveis para cada vez tornar mais possível
este sonho que não mais é “o impossível realizável” e sim o possível real.
28 de janeiro de 2003
0 comentários: